Uma boca fala para um olho ver Que tudo se cala ao anoitecer Uma boca diz a esse olhar feliz: Vítrea íris, verde verniz! Uma boca finge ser uma esfinge O olhar de mil segredos se tinge. Uma boca mente ao olhar clemente Se o olho não vê, a boca não sente! Uma boca deseja que o olho veja Que o olhar enseja, mas só ela beija! Uma boca tem um gosto de anis Lábios pedintes de meretriz A boca que fiz o olhar não quis Gestos gentis, carinhos sutis A boca continua e logo insinua A língua nua no olhar flutua A boca implora: sou toda tua! Teu olhar meu gosto tatua Mas o olhar, insensível Achando a boca horrível Tende a ser desprezível. As pálpebras vão se cerrando E a boca vai bocejando... Uma boca ao olhar algo quer dizer Mas tudo se cala ao anoitecer!