Tantas riquezas descaminhadas
Em colossal calabouço
De cães que não largam o osso
Enquanto não extraem e destroem
Da natureza os valores
Mais importantes e profundos.
São gente de todo poço
Doutores, padres e bandidos
Oficiais da ralé
Pastores de todos os gados.
Assassino cruéis e tarados
Onipotentes e onipresentes
Onidementes inconsequentes
Uma verdade portanto
Por tantas pessoas distintas
Gente que carrega nas tintas
Da hipocrisia barata
Da mentira deslavada
Da maldade crua e nua
Híbrido de céu com inferno
Sinuosa e escorregadia
Cobras criadas em palácios
Ratos crescidos em porões
Irmandade de ladrões
Dão com uma mão
Tiram com a outra.
Destroem as florestas
Transformam as matas em desertos
E se sentem os mais espertos
Tocam fogo na caatinga
Incendeiam o pantanal
Mercurizam os rios e riachos
As lagoas, lagos e nascentes
Bando de ignotos inteligentes
Para enriquecer com o crime
E nao ser preso jamais.
E como riem esses filhos
De messalinas meretrizes
Da horda de famintos infelizes
Que sofrem tudo contentes
Sorrindo com as bocas sem dentes
Dando graças ao bom Deus
Um ser supremo e ateu
Que deixa os outros sofrerem
Pois se a miséria, a fome, a discórdia, a guerra
E a morte existem
É porque ele em seu poder permite
Pois o sofrimento é a chave da penitência da fé
E o bando de salafrários riem tanto
Dos salários de quem trabalha
Para o pão comer no dia
Com a dor do esforço desmedido
Da escravidão descabida, do suor
Ardido e fedido
Na podridão da agonia.